quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mimeógrafo

Acontecem umas coisas na vida da gente que nos fazem refletir. Na maioria das vezes, coisas simples que passariam despercebidas por muitos. Mas ouvidos e olhares atentos conseguem captar estes sinais, e um deles me transportou para uma época muito gostosa de minha vida.

Meu filho Leandro chegou excitado em casa com um papel na mão. Gritava:

– Mãe, pai, olha o que o Vinicius me deu, um papel mágico de desenhar.

E, ofegante, correu para a mesa do computador para testar o novo brinquedo. Qual não foi nossa surpresa ao ver que se tratava de um papel carbono! Olhamos um pro outro e caímos num riso gostoso, com um misto de surpresa e nostalgia. Sim, porque não é comum deparar com uma cena na qual um garoto de 12 anos - que nunca imaginou a vida sem um computador pessoal - se maravilhasse com uma invenção de não-sei-quantos-anos-atrás.

Corri atrás dele para continuar com meu deleite, atento caso Adriana perdesse o fôlego e precisasse de um boca-a-boca de tanto rir. Ensinei como se colocava o papel carbono sob um desenho qualquer e sobre uma folha em branco e, ao passar o lápis sobre o desenho, como num passe de mágica ele se transferia para a folha em branco lá do fundo! O olho dele brilhava. Mas quando eu expliquei que se tratava de grafite, o mesmo material da ponta do lápis, ele logo perdeu o interesse e estava de volta para o seu Nintendo DS com touch screen.

Passada a euforia do papel carbono eu me lembrei de umas invenções que duravam séculos sem a ameaça de um substituto mais moderno. O papel carbono, ou papel químico, é um deles. Aí me ocorreu que o mimeógrafo, patenteado em 8 de agosto de 1887 por Thomas Edison
, ainda reinava absoluto em meus tempos de escola – e eu me formei em Engenharia 100 anos depois! Para quem não sabe, não se lembra ou finge não se lembrar pra esconder a idade, o aparelho funcionava assim: os textos eram preparados com a ajuda de uma máquina de escrever, numa matriz em papel chamado estêncil, impermeável e que continha a tinta concentrada numa das faces. A máquina ou um instrumento ponteagudo (para os desenhos) fazia perfurações que permitiam a passagem da tinta e consequente impressão no papel. Esta tinta da matriz dissolvia-se em álcool, que era colocado num recipiente da máquina. Colocava-se a matriz num pequeno cilindro poroso cheio de tinta e girava-se uma manivela que o punha a rodar. A velocidade escalar tangenciando o cilindro impelia a tinta através da matriz e esta imprimia diretamente o papel. Presto!

Independentemente do processo da engenhoca, o gostoso mesmo era sentir o cheirinho do álcool toda vez que o professor entregava a prova para a turma. Minha memória rodopiou a mil por hora com o episódio do papel carbono, pois viajei no tempo sentindo o cheirinho do álcool do mimeógrafo e me lembrei da adrenalina que vinha logo a seguir, ao ler as perguntas da prova uma, duas, três vezes e sentindo aquele friozinho na espinha que antecedia as respostas da prova. E, claro, além do olfato, o sentido da audição veio também à mente quando ouvi o som do sino sendo tocado ao longe, lembrando à classe que o tempo acabou.


Mas o tempo não acabou. Enquanto houver lembranças deste tipo, estaremos vivos e teremos sempre a certeza que vivemos com plenitude cada instante de nossa linda juventude – página de um livro bom.

Tomara que esta geração de hoje consiga juntar boas lembranças deste mundo tão...tão...ah, sei lá, véio.



7 comentários:

  1. Amei o blog, Tio Had. Já passava da hora de você exercer esse lado artista em público. E quer mais público que o mundo inteiro da internet?
    Saudades de vocês. Beijos na tia Dri e nos meninos. Clarisse

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  2. QUE GRATA SURPRESA!
    BÃO DIMAIS, SÔ!
    FIQUEI MUITO FELIZ QUANDO O GERALDO DISSE-ME DO SEU BLOG.
    VÁ EM FRENTE, UAI, ALIÁS SÓ PRA FRENTE. VOCÊ E SUA LINDA FAMÍLIA MERECEM MUITAS COISAS BOAS. AFINAL DE CONTAS, NÃO É SEMPRE QUE DEPARAMOS COM PESSOAS TÃO "GOSTOSAS"COMO VOCÊS.
    SEM PRETENÇÃO NENHUMA, ESCANCARO PARA TODOS QUE LHES CONHECEM QUE, AMO VOCÊS.
    APAREÇAM, ESTOU COM SAUDADE, MUITA SAUDADE.
    AH, IA ESQUECENDO-ME: VIVA A SELEÇÃO AZUL E BRANCA!
    OBS:
    NÃO SERIA EU SE NÃO FALASSE DO NOSSO TIMÃO, NÉ MESMO LINDIM?
    SUCESSO, PROSPERIDADE, AMOR E PAZ!
    VICENTINA

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  3. Viva! Viva! TiHad. Sensacional.
    Assino embaixo das palavras da Cacá, pois agora podemos mostrar aos amigos sua arte, ao invés de apenas citar ou comentar...
    Desejo-lhe uma infinidade de posts, ou seja, muita inspiração para manter este endereço cada dia mais interessante...
    Sucesso! Abraços,
    Dinho Livio

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  4. Ei tio!!!! que ótimo que teve essa iniciativa...já era tempo né!!!!! parabéns!!!!!!HAAAAAAAAAAAAA e eu ainda vendo mimeógrafo em minha loja tá (mesmo que esteje em estoque há anos) !!!! hehehe

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  5. Também fui da época dos mimeográfos, e a lembrança do cheirinho de alcool nos dias de prova foi a melhor definição deste momento...
    Ótimo!
    Abraços,
    Juliane

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  6. Um dia tentei explicar à Bárbara e Bernardo o funcionamento do mimeógrafo, mas quando cheguei na "parte" da manivela eles riram tanto que o assunto ficou por aí... hehehe...

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  7. Essa lembrança da prova com cheirinho de alcool, nossa pareçe que foi ontem, voce deveria escrever um livro sobre essas memórias, assim nossos filhos poderiam ler no futuro.Que saudade daquele tempo que tudo era mais simples e tranquilo...Haroldo , beijos nos meninos e na Adriana.

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