Recentemente tenho visto o mundo pelos olhos de meus filhos. Na maioria das vezes me pego pensando se já tive este tipo de experiência quando tinha a idade deles, pois não me lembro de muitas coisas, não. As descobertas são sempre sutis e merecem um tempo para digestão dos fatos e ligação das coisas. Como quando paramos para lanchar neste feriado de Corpus Christi, indo de Mariana para BH, pela Rodovia dos Inconfidentes.
A Serra da Santa nos reserva um visual lindo nos dias claros, pois apesar do preço pago pela serração e curvas sinuosas para se chegar lá em cima, vale a pena observar Itabirito (pedra que risca vermelho) lá do alto dos 1.200 m da serra, que tem composição rochosa com afloramentos, e forma um conjunto de esculturas naturais em projeções abstratas, com a neblina nos dando a impressão de estarmos em pleno voo sobre seu mar de nuvens. A gruta de Nossa Senhora das Graças já ouviu muitas preces de torcedores fanáticos a caminho do Mineirão...
Paramos no Pastel de Angu, uma lanchonete sui generis que nos faz viajar no tempo. Logo de cara você se depara com uma pick-up Chevrolet Boca-de-Bagre 1951 na entrada, além de carros de boi inteirinhos, só faltando os bois e a música brotando das rodas de madeira. Long-plays ornamentam tetos e paredes, e você fica pensando quantos bailes e horas dançantes aqueles bolachões já animaram pelo interior de Minas afora...
A cada instante parávamos o passeio pela lanchonete para explicar aos meninos como funcionavam os utensílios e objetos antigos: máquina de datilografia, que pra eles é teclado, ferro a brasa ou machambombo, toca-discos com ponta de diamante - diamante, pai?!, uma carreira inteira de bancos de cinema – de madeira, com assentos retráteis, e eu juro que saiu do cinema de Mariana. Na hora imaginei Elcinho Rocha vendendo amendoins no hall da entrada, e João da Mecânica dormindo na terceira fileira.
Voltando ao túnel do tempo, a revista O Cruzeiro estampava na capa a cantora Wanderléia, com o sucesso “Ternura” e um comercial de página inteira de Helena Rubinstein com a bela miss Brasil de 1964. Agora nos deparamos com vários carrinhos de rolimã pendurados no teto, e foi então que vi os olhos do Gustavo brilharem feito o diamante do braço do toca-discos. Tinha um até moderno, com logo da Ferrari, freio de cabo de aço e tudo o mais. Pediu pra comprar, lógico. O dono não estava, e é ele quem define o preço das mercadorias na hora.
Mas e o tal Pastel de Angu? Pois então; nos dirigíamos à lanchonete quando nos deparamos com um poço dos desejos, com carpas coloridas nadando, moedinhas reluzindo no fundo e tudo o mais. Rapidamente pedimos algumas moedinhas e nos projetamos de costas para o poço, como manda o figurino. Notei que os dois garotos faziam os pedidos de olhos fechados – dá mais certo, será? Jogamos as moedas por cima dos ombros e fomos comer os pastéis - a propósito, fritos na hora e deliciosos.
De volta para Mariana, dias depois, no carro, o Gustavo me convence mais uma vez que devo continuar vendo o mundo pelos olhos deles:
- Pai, sabe o que eu pedi no poço dos desejos?
- Não, filho.
- Eu pedi pra nunca crescer...
Mark Zuckerberg
Há um dia
Oi,Tio Had.
ResponderExcluirO texto me levou aonde vc esteve, a riqueza de detalhes e a profundidade dos sentimentos que expressou, me possibilitou a interagir também com o cenário e suas emoções. Parabéns! Sou sua fã sempre! Adoro suas caricaturas e seu humor, como também amo sua família.
Saudades de vcs, tio Had, Tia Dri e lindos meninos!
Abraços, Juliane Alves (afilhada).
É muito legal ver você e Taíssa passeando por aqui, eu que vi vocês crescerem... saudades!
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