sábado, 7 de maio de 2011

Elias Layon - o pintor das brumas


Quem visita a histórica Mariana, em Minas Gerais, deveria, antes de percorrer a cidade, entrar no atelier do artista Elias Layon. De lá sairia com o olhar contaminado por uma imagem poética da cidade que a realidade está longe de proporcionar. Mais importante do que os casarios coloniais, na pintura de Layon as brumas são seu fundamento constitutivo. No rigor de cada composição, a palpabilidade do mundo desaparece e o motivo das brumas se impõe preponderantemente.

Na sua obra a cor, as linhas e as massas pictóricas refletem a essência dessa toalha fina de neblina fresca, a bruma, em sua profundidade, no seu aveludado, na sua maciez no seu odor. A cada nova tela do artista, o mundo se dissolve sobre os reflexos da bruma. A cidade parece transfigurada por uma atmosfera mágica. Layon não quer, portanto, revelar os mistérios da cidade, quer torná-la uma terra de mistérios.

Suas telas refletem cada pequeno espaço da cidade, de sua natureza, de suas luzes revelando o que eles têm de mais íntimo e sublime. Ao mergulhar em cada tela do artista parece que provamos do hálito de eternidade, levando-nos para além do tempo físico e nos mantendo suspensos numa atenção atemporal, diante de uma visão só possível de ser capturada pelos pincéis do artista.

Sua arte devolve à cidade de Mariana a sua condição perdida, condição poética que é redescoberta e iluminada pela arte, sabendo que é a obra de arte que a torna perene. O artista realiza o milagre de tornar cada pequeno facho de luz, cada movimento da neblina, cada frescor matinal e folhas de árvores que dançam ao sabor do vento, num edifício imenso de força viva, que transpira uma permanência indefinida. Provamos de uma alegria, que à simples lembrança de suas telas, sempre retorna. Pois, como dizia o poeta Keats, "uma coisa bela é uma alegria para sempre".

Mas nosso artista não apenas é pintor. Layon descobriu, após uma vida dedicada à pintura, a expressão artística da escultura. E essa descoberta da escultura já surpreende em sua riqueza de expressão e qualidade técnica.

Texto irretocável de Jardel Dias Cavalcanti

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